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Presidente do PCdoB da Bahia e secretário estadual do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte, Davidson Magalhães vê um cenário diferente na sucessão do governador Rui Costa após as movimentações políticas dos dois últimos meses. “Tiramos aquele pessimismo que ocorreu [com a desistência de Jaques Wagner]”, avalia o político e também professor universitário. “A eleição agora dá um grande impulso, com possibilidade real de vitória de Jerônimo [Rodrigues, do PT]”, completa. 

Na entrevista a seguir, Davidson fala da desistência de Wagner, da saída do PP da base governista e da chegada do MDB. Destes três movimentos, ele conclui que não houve a imaginada sangria na base e que a recomposição se deu de forma rápida. 

Ainda opina que o governador Rui Costa demonstrou sua capacidade de aglutinação, fazendo gestão e política – contrariando o que dizia o antes aliado Marcelo Nilo, deputado federal que deixou a base e pode ser candidato a vice-governador na chapa de ACM Neto (União Brasil).

Davidson ainda fala dos próximos passos da pré-campanha e campanha de Jerônimo. E por que ele acredita na vitória do petista na corrida ao Palácio de Ondina? A aposta do presidente estadual do PCdoB, dentre outros fatores, se dá pelos cabos eleitorais fortes do petista, o governador Rui Costa e o ex-presidente Lula. Confira a entrevista concedida ao Pimenta e ao Diário Bahia.

Como o sr. avalia a pré-campanha de Jerônimo Rodrigues?

Tiramos aquele pessimismo que ocorreu [com a desistência de Jaques Wagner] e a impressão de que as eleições eram favas contadas [para ACM Neto]. A eleição agora dá um grande impulso, com possibilidade real de vitória de Jerônimo.

Na sua avaliação, o que mudou para que ocorresse essa mudança de perspectiva eleitoral?

Sempre reclamavam de que o governador [Rui Costa] não fazia política. Temos um governador bem avaliado, um dos principais cabos eleitorais de Jerônimo. Rui foi a campo e demonstrou, dentro deste espaço de prefeituras e de lideranças regionais, a sua capacidade de aglutinação.

E a saída do PP?

Parecia que iríamos ter uma sangria. E isso não ocorreu. Foi importante a atitude do governador de virar essa chave, de casar administração com política. Rui só chegou a 16% em agosto. Jerônimo chegou a isso agora em maio. Então, é um crescimento muito grande. Veja: os governadores anteriores não iam aos municípios. Rui e Jaques Wagner mudaram essa cultura de governador ficar no Palácio [de Ondina]. Rui e Wagner foram aos municípios, visitaram bases, constituíram bases. O segundo elemento dessa estratégia é a discussão do PGP [Programa de Governo Participativo] nas regiões, também pega e aglutina as forças políticas nas regiões, que estavam distanciadas.

 

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Sempre reclamavam de que o governador [Rui Costa] não fazia política. Temos um governador bem avaliado, um dos principais cabos eleitorais de Jerônimo. Rui foi a campo e demonstrou, dentro deste espaço de prefeituras e de lideranças regionais, a sua capacidade de aglutinação.

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O PGP é feito por regiões. Não é limitado quanto a capilaridade eleitoral?

É uma estratégia positiva, porque faz a região, faz centralizado na região, mas há todo um processo de articulação política nas regionais. Isso é a fase da pré-campanha, fundamental para fazer isso.

Com o nome de Jerônimo desconhecido do eleitorado, essa é a melhor estratégia?

Acho que sim. Tem que conjugar com um terceiro momento, que são as ações de massa com pré-candidaturas [a deputado], porque isso vai colocando Jerônimo em contato com as lideranças. Acho que vai ser rediscutida essa agenda de pré-campanha, porque a agenda precisa ir, agora, nos pré-lançamentos de campanhas, que reúne a base eleitoral dos candidatos. Então, não é mais falar só para lideranças. Essa etapa do PGP e das discussões das ações de governo vai continuar, porque é muita ação de governo, é muita coisa.

E quais seriam as outras estratégias para que o pré-candidato ganhe visibilidade?

Temos aí junho e esse período de São João, toda uma agenda que exponha ele, além das inserções de TV, que precisamos aproveitar para projetá-lo ainda mais. Claro, hoje é diferente do passado, hoje você tem as redes sociais, que aceleram processo de conhecimento.

Claro que a população ainda não está pensando em eleição. Então, quando a gente associar as ações e êxitos do governo, passada essa etapa de PGPs e outras ações e massificar as ações políticas, vinculando Jerônimo aos nomes do Lula, do Rui e do Wagner e do reforço com a candidatura do Otto… A saída do Leão foi um grande prejuízo político… Leão tinha estatura de vice-governador.

 

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A vinda do MDB causou prejuízo na principal base eleitoral do ACM Neto, que é Salvador. E aquela saída do MDB [do grupo de Neto] foi muito simbólica. Trouxe um partido do centro, mas não só isso.

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Essa recomposição após a saída de Leão, o sr. acha que foi rápida?

Tem um dado importante, que foi a vinda do MDB, o que causou prejuízo na principal base eleitoral do ACM Neto, que é Salvador. E aquela saída do MDB [do grupo de Neto] foi muito simbólica. Trouxe um partido do centro, mas não só isso, pois trouxe o presidente da Câmara de Salvador, [Geraldo Junior, escolhido pré-candidato a vice da chapa], e bagunçou o projeto deles de hegemonia completa em Salvador. Então, isso foi importante do ponto de vista da chapa majoritária, pois trouxe a liderança do presidente da Câmara. Foi um fato político. Somado tudo isso, cria um caldo muito propício à vitória [de Jerônimo].

O que o sr. tem visto que prenunciaria um “repeteco” das 4 últimas eleições, esse caldo a que o sr. se refere?

São os eventos, a reação das lideranças. Você não está vendo grande desagregação da base eleitoral que elegeu Rui, que elegeu Wagner. Do primeiro mandato para o segundo [de Wagner], saiu o MDB, entrou o PP. Agora, saiu o PP, entrou o MDB. Você não teve, do ponto de vista político, uma desagregação dessa base, que se manteve unida.

Quando chegar o final de julho, início de agosto, você acredita que mantém essa base de apoio nos municípios?

Muito se fala ´ah, os prefeitos estão querendo pegar convênio’. Mas aí entra o Fator Lula. Ele não pode entrar agora, com força, porque ainda não estamos na campanha eleitoral. Lula veio aqui uma vez [em março, no lançamento da pré-candidatura de Jerônimo], mas ele não tá visível na pré-campanha, pedindo voto. Quando esses que podem vacilar tiverem a perspectiva de vitória federal e o crescimento estadual… Nós ganhamos a primeira eleição com quantos prefeitos? A base tem em torno de 300 prefeitos. Em 2006, com Wagner, ganhamos com 30 prefeitos. Com essa ação do governo estadual… Me diga, qual a região que o governo não está presente, não está forte? Uma região que tínhamos uma certa fragilidade política era o extremo-sul.

 

 

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No extremo-sul, na enchente, Rui, Wagner, Otto Alencar, as nossas lideranças, todo mundo colocando o pé na lama para acudir o povo. Outras lideranças tiveram férias no exterior… Isso chamou muito a atenção do povo. Falta de solidariedade.  

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Por que o sr. considera que o quadro mudou?

No extremo-sul, na enchente, as lideranças políticas de responsabilidade, todas elas, tiveram presença efetiva no extremo-sul. Rui, Wagner, Otto Alencar, as nossas lideranças, todo mundo colocando o pé na lama para acudir o povo. Outras lideranças tiveram férias no exterior… Isso chamou muito a atenção do povo. Falta de solidariedade. O povo passando necessidade, ponte caindo, mortes, e onde estavam algumas lideranças políticas? No exterior, tomando champanhe francês, fora daqui.

A expectativa é de que a transferência de votos de quem vai votar em Lula e de quem votou em Rui nas últimas eleições seja principal trunfo para eleger Jerônimo governador?

Qual é o elemento importante? Quando alguém é candidato, representa um grupo, um conjunto de ações, não é ele sozinho. Representa um campo político. Quando sai um nome novo, como foi Jerônimo – e da forma que saiu e que pegou muita gente de surpresa, inclusive, nós, que estávamos na direção de campanha, quer dizer, até que cole a imagem do grupo ao candidato, leva um tempo, mas, na hora que cola, não tem jeito. É 13, aí você coloca as pesquisas… Isso é um processo de transferência de votos da liderança. É normal isso. Quantos prefeitos pegam aí candidato pouco conhecido e elegem? Ali é a expressão da liderança dele.

A expectativa é de esse louro aí seja colhido em que mês da campanha?

Aí vai depender muito de desempenho. Você vê com Rui, com Wagner. Olhe bem como foi Wagner. Eu estava na coordenação. O último evento da campanha de Wagner foi onde? Em Itabuna, aqui na região inteira, depois caminhada na Cinquentenário. No outro dia, o que as pesquisas diziam, na véspera da eleição? Sábado, a pesquisa dava dúvida se iria ter segundo turno. O cara [Wagner] ganha no primeiro. Então, a gente tem que ter convicção. Essa vitória [de Jerônimo] está bem encaminhada. Na Bahia, estamos no caminho certo da vitória.

 

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A terceira via desapareceu… Eu acho que vai acontecer um fenômeno, de acumular ainda mais votos para Lula, o voto útil. É bem provável que essa eleição seja decidida no primeiro turno.

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E no plano federal?

A rejeição de Bolsonaro é enorme. Ninguém ganha com uma rejeição daquela [refere-se à pesquisa Ipespe, divulgada na semana de 20 de maio]. A terceira via desapareceu… Eu acho que vai acontecer um fenômeno, de acumular ainda mais votos para Lula, o voto útil. É bem provável que essa eleição seja decidida no primeiro turno.

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A Constituição Federal de 1988 estabeleceu o concurso como regra para ingresso no serviço público. A Câmara de Vereadores de Ilhéus, no sul da Bahia, ignora o comando constitucional há mais de três décadas, mas esse desprezo à Carta Maior está com os dias contados, assegura o presidente da Casa, Jerbson Moraes (PSD), nesta entrevista ao PIMENTA.

O parlamentar lidera as tratativas da Câmara com o Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) e dá detalhes sobre o termo de ajuste de conduta (TAC) em discussão. Ele diz acreditar na construção de um consenso sobre o momento oportuno para o primeiro concurso da Casa.

Também explica o que entende por resistência institucional ao concurso; revela o número de cargos comissionados da Câmara; estima quantos cargos efetivos serão abertos; fixa prazo limite para a realização do certame; e aponta as funções que, certamente, serão contempladas na lista de vagas. Leia.

PIMENTA – O concurso sai ainda nesta gestão da Mesa Diretora?

Jerbson Moraes – Não. O concurso será neste mandato. Não sai nesta gestão. Nós temos seis meses de gestão. A gente vem conversando com o Ministério Público sobre a necessidade de um concurso que, efetivamente, mude a realidade do Poder Legislativo da cidade. A gente chegou à conclusão de que o concurso vai ser feito no último ano deste mandato [2024] e com a convocação dos aprovados no início do mandato seguinte, a partir de 1º de janeiro de 2025.

Câmara e Ministério Público vão firmar termo de ajuste de conduta (TAC) sobre o concurso. Isso é suficiente para assegurar que, independentemente de quem esteja na Mesa Diretora, o concurso será feito?

É, porque a gente vai tentar que todos os vereadores assinem, junto com o presidente e a Mesa Diretora, esse termo de ajuste de conduta, onde a gente vai colocar todo o cronograma do concurso, ainda nesta gestão da Mesa Diretora. Vamos convencer todos os vereadores, porque é o concurso de um Poder para o qual nunca existiu concurso público. A gente está fazendo um trabalho muito técnico, porque o que for feito deverá ser feito para durar muito tempo. Não se pode, aleatoriamente, criar vagas, [definir] número de vagas. É preciso um tempo razoável para que se possa chamar o número de pessoas concursadas necessárias. Existe o parâmetro da Câmara de Itabuna, que tem aproximadamente 50 vagas cargos efetivos. Vamos ficar muito próximos disso, porque [as câmaras têm] o mesmo número de vereadores e duodécimos parecidos. É uma referência próxima.

Uma das consequências do concurso é reduzir os cargos de livre nomeação. Isso pode vir a ser um obstáculo, um problema?

Acredito que não. Primeiro, provavelmente, a empresa que vai realizar esse concurso já seja contratada por nós, nesta gestão. Provavelmente. Isso vai depender dos avanços da nossa conversa com o Ministério Público e da formatação do TAC. Segundo, todos os vereadores vão participar dessa discussão. E terceiro: há necessidade de que nossa conduta seja ajustada para que possamos respeitar a Constituição. Isso está sendo feito de forma dialogada, com muita discussão, sem nenhum tipo de extremismo. Tanto é que a gente está levando em consideração que o vereador que ganhou a eleição, [em 2020], ganhou a eleição para uma estrutura administrativa. Ele tem os compromissos dele. A vigência da nova lei será a partir do mandato que vem. Os vereadores vão enfrentar uma eleição já para uma realidade e para uma Câmara diferentes. É também uma oportunidade que a Câmara está tendo de se ajustar de uma forma não muito radical. Acredito que não tem como [o concurso ser barrado], é um caminho sem volta. Não tem como retroceder.

Nesse diálogo com os vereadores, você observa adesão majoritária ao concurso? Existe alguma resistência declarada?

Existe uma resistência institucional. Não é uma resistência individual. O Poder Legislativo de Ilhéus é constituído dessa forma desde sempre. Ninguém nunca experimentou realidade diferente, que é a realidade que a Constituição exige. Mas, no momento em que a gente começa a dialogar, começa a respeitar os lados envolvidos, seguindo o bom senso de que não existe acordo com relação à lei. A gente precisa cumprir a nossa Constituição. Isso vai fazendo com que todos os vereadores acabem do lado do concurso, apoiando, porque é a oportunidade que a gente tem de regularizar a situação da Câmara. Não vejo resistência individual. Existe, no início da discussão, a falta de informação, a falta de comunicação, mas, a partir do momento que a gente vai avançando, explicando e o bom senso vai prevalecendo, a gente acaba tendo uma adesão de, praticamente, 100% [dos vereadores].

Pode caracterizar como essa resistência institucional se manifesta? Como a gente pode traduzir essa expressão?

[Na Câmara], você tem vereadores de vários mandatos, com 2, 3 mandatos, que sempre trabalharam com essa estrutura, sempre trabalharam dessa forma. Você tem vários presidentes que ocuparam aquele cargo e sempre, radicalmente, colocando gente nova para gerir a Casa. Você já visualiza como se isso fosse normal. Quando você traz o correto, mas o correto é diferente do habitual, vai fazer uma coisa nova. E tudo que é novo, às vezes, traz uma estranheza, pela questão das informações e etc. Mas, no momento em que a gente mostra que nós não estamos, em hipótese nenhuma, querendo fazer politicagem, querendo se promover com algo dessa importância, na hora que a gente passa para os vereadores que a gente vai respeitar essa forma que eleição foi feita [em 2020]. É aquela coisa: não vamos mudar as regras no meio do jogo. A gente pede ao vereador que entenda que, no próximo mandato, a Câmara de Ilhéus tem que, efetivamente, ser outra Câmara. Você já vai concorrer à eleição sabendo dessa nova realidade.

É uma resistência superável ou já superada?

Eu acredito que já foi superada, porque, no momento que você tem informação, que tem diálogo, o óbvio, o correto, o certo, ele sempre vai vencer. Não adianta. Se você defende algo que não é o correto, defende algo que não tem sustentação legal, que não é razoável, dificilmente você consegue chegar onde quer. Mas, quando defende o razoável, o correto, o constitucional, as coisas vão chegando aonde devem chegar.

A Câmara tem quantos cargos comissionados e quais profissões, a princípio, seriam contempladas no concurso? O estudo ainda não está concluído, mas é possível dizer quais seriam os cargos efetivos essenciais?

Nós já avançamos bastante nesse estudo. A gente não está iniciando o estudo. Desde quando sentei na cadeira [de presidente da Câmara], eu comecei esse trabalho. A gente já tem uma ideia, mas não é algo definitivo, porque, como lhe disse, o estudo ainda não foi concluído. A gente precisa ver a questão do impacto contábil, a questão financeira. A gente quer construir um plano de cargos e salários para esses concursados que estão vindo, o que já é outra lei. A gente precisa terminar o estudo comparado. Estamos pegando câmaras do Brasil todo que são parecidas com a nossa, em termos de duodécimo, de número de vereadores. A gente quer fazer uma coisa bem moderna. Agora, os cargos que a gente pode antecipar são os da procuradoria e controladoria. Nós não temos nenhum procurador ou controlador concursado. A questão da contabilidade. São cargos que, tradicionalmente, pertencem ao Poder Legislativo e, com certeza, estarão no nosso novo organograma administrativo.

São quantos comissionados?

Cem por cento, quase 400 funcionários, todos comissionados, com exceção de três funcionários que estão lá porque adquiriram estabilidade com o tempo, mas também não foram concursados. Foram aqueles contratados antigos que ficaram com estabilidade em razão do tempo de contrato, antes da Constituição de 1988. Todos os outros são comissionados. Não existe nenhum concursado na Câmara de Ilhéus.

Todos eles estão suscetíveis a sair da Câmara a cada troca de gestão.

É isso. Aí você prejudica a continuidade da administração pública, porque, apesar do mandato ser temporário, o Poder é eterno. Então, você não pode trabalhar botando e tirando pessoas da administração pública quando o vereador entra e sai, quando o presidente da Câmara entra e sai. Isso não existe. A gente precisa de continuidade. Os novos vereadores que entram e o novo presidente precisam de servidores efetivos na Casa para fazer a transição, garantir a continuidade do serviço e não começar sempre do zero. A gente precisa trabalhar na excelência da fiscalização e da produção legislativa. A gente só vai conseguir isso quando mudar a realidade administrativa da Câmara.

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No ano do seu centenário, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) escolheu Sofia Manzano para representá-lo na disputa da Presidência da República. A paulistana de 51 anos é radicada em Vitória da Conquista desde 2013, quando assumiu o cargo de professora da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), onde leciona Economia, sua área de pesquisa da graduação na PUC-SP ao doutorado na USP.

Ela é autora do livro Economia Política para Trabalhadores (Ed. Instituto Caio Prado Jr.), título que indica um dos desafios da sua pré-candidatura: levar ao conhecimento da classe trabalhadora as propostas dos comunistas para a economia do país.

A tarefa não é fácil. O PCB está em franca reconstrução, mas ainda longe do protagonismo que marcou sua trajetória no século passado. Some-se a isso os consensos neoliberais no debate público, promovidos por meios de comunicação de massa. As brechas estão na internet, como nas redes sociais, onde os pré-candidatos comunistas acrescentaram a sigla do partido aos seus nomes (@sofiamanzanoPCB, por exemplo) para uniformizar a identificação dos perfis.

Se a missão de falar às multidões é cheia de obstáculos, o apelo dos temas econômicos é forte e incontornável no debate eleitoral. A carestia da vida está nas gôndolas de alimentos, nos postos de combustíveis, na conta de energia, no preço do gás, etc., enquanto o salário mínimo não tem ganho real desde 2017.

Nesta entrevista ao PIMENTA, Sofia Manzano mostra como esse cenário econômico reflete o conjunto da obra do governo Bolsonaro. Também explica como o Dieese chega ao valor recomendado do salário mínimo para as despesas de uma família, que hoje seria de R$ 6,3 mil. Segundo ela, com planejamento econômico, o país tem condições de atingir esse nível de renda mensal familiar. Leia.

PIMENTA – O Comitê de Política Monetária elevou a taxa básica de juros para 12,75%, alegando que isso é necessário para conter a inflação. De um lado, a gente vê reclamações, como as da Confederação Nacional das Indústrias. De outro, tem gente da esquerda defendendo a gestão de Roberto Campos Neto. Qual é o melhor caminho para a política monetária brasileira?

Sofia Manzano – É um equívoco a gestão do Banco Central independente do Roberto Campos, porque ele está fazendo uma política monetária que visa, simplesmente, o interesse do mercado financeiro. Essa política de aumentar a taxa Selic é muito ineficiente para conter a inflação. O que eles alegam é que a inflação está – e de fato está – muito elevada e crescendo. Por isso, eles aumentam a taxa de juros, pensando sempre num modelo de teoria econômica bastante ultrapassada, que é a teoria quantitativa da moeda. A ideia de que, se os preços estão subindo, é porque a demanda está muito elevada, então tem que aumentar a taxa de juros para conter a demanda.

Só que sabemos que o nosso processo inflacionário não decorre do aumento da demanda. Muito pelo contrário. Tínhamos, antes da pandemia, quando não havia uma inflação tão elevada, uma população se alimentando e consumindo. Com a pandemia e o empobrecimento da população por causa da reforma trabalhista, hoje temos mais de cem milhões de pessoas com insegurança alimentar. Elas não têm dinheiro para comprar o básico, o alimento. Portanto, a demanda, que é a procura por bens e serviços, não está aumentando, está retraindo. A inflação atual não é causada por um excesso de demanda, mas por pressões de custo.

Quais?

A principal é a política de preços da Petrobras. O lucro trimestral da Petrobras aumentou 3.000%, R$ 44,5 bilhões. Ora, não é a Petrobras empresa: o governo que está comandando essa empresa é que faz uma política que só visa o lucro, com aumentos constantes dos combustíveis e gás, que entram no custo de toda a produção. Para produzir qualquer coisa tem que ter energia e transporte. Se a energia e o transporte sobem, o preço desses produtos vai subir.

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O ex-presidente da Câmara de Vereadores de Ilhéus Jailson Nascimento pretende se candidatar à Assembleia Legislativa da Bahia (Alba). Lança a pré-candidatura neste domingo (1º), às 8h30min, no Barravento Praia Hotel.

Vereador por quatro mandatos, Jailson ajudou a eleger o filho, Fabrício Nascimento (PSB), para a Câmara de Ilhéus, nas últimas duas eleições. Apesar dos anos afastados dos holofotes, nunca deixou de ser um ator político influente nos bastidores. Após a saída do PSB, anunciada no fim de março, volta às disputas eleitorais. Agora, filiado ao Solidariedade.

Nesta entrevista ao PIMENTA, ele fala sobre o que chama de fim do ciclo político ao lado do vice-prefeito de Ilhéus, Bebeto Galvão (PSB), e refuta a possibilidade de a sua pré-candidatura ser interpretada como gesto revanchista, num contexto em que a base do prefeito Mário Alexandre (PSD) se alinha em torno da primeira-dama Soane Galvão (PSB), também pré-candidata à Alba. Sobre a eleição para governador, Jailson vislumbra disputa acirrada e explica por quê. Leia.

PIMENTA – A saída do PSB significou mesmo um rompimento político com Bebeto Galvão?

Jailson Nascimento – Politicamente, sim. Foi um ciclo de quase 14 anos. Cheguei à conclusão de que Bebeto não tinha interesse que continuássemos ao lado dele. Várias coisas que ele vinha fazendo comigo, retaliações. Achei melhor sair. Entrei pela porta da frente e saí pela porta da frente.

Quando anunciou a saída do PSB, você disse que acordos eleitorais de 2020 não foram cumpridos.

Justamente.

Pode revelar quais foram esses acordos?

Prefiro não, para não ficar parecendo coisa pessoal.

Os acordos não foram cumpridos por Bebeto ou por Marão?

Os dois.

Avalia-se que a sua pré-candidatura pode atrapalhar a de Soane Galvão. Existe essa conotação de revanchismo?

Não, de jeito nenhum. Primeiro, meu currículo não permite isso. Sou político há mais de 30 anos. Quem quer crescer na política galga sempre algo maior. Fui vereador e tenho possibilidade, tranquilamente, de ser candidato a deputado estadual. Não tem revanchismo, nunca teve e não vai ter agora. Sou de Ilhéus e acho que Ilhéus está precisando de representação política de verdade, que tenha serviços prestados na cidade e possa, realmente, dar esperança a esse povo. Tem quatro anos que Ilhéus está sem representação estadual e federal. Estamos órfãos. Não é só Ilhéus, a região cacaueira é órfã de representação política.

Por que decidiu lançar a pré-candidatura?

A região precisa ter representantes. Já tivemos Antônio Olímpio, grande deputado. O próprio João Lyrio, deputado brilhante. Em Itabuna, Geraldo Simões, Fernando Gomes. Aqui, [Raymundo] Veloso. Foram muitos e nos representaram bem. Claro, cada um com seu potencial político e suas marcas. E não será diferente com a gente, porque, hoje, para qualquer coisa que a região precise, tem que buscar um deputado de fora, que não tem a mesma dedicação e o mesmo empenho que nós precisamos. Por isso, coloco meu nome à disposição da região cacaueira, porque me sinto, sem nenhuma vaidade, à altura de representar nossa região.

Você falou que o sul da Bahia está órfão de representação política. Quais devem ser as prioridades de um deputado estadual eleito pela região?

Turismo, que é o vetor principal da região toda. Envolve Ilhéus, Canavieiras, Itacaré, Uruçuca, Serra Grande, Una. Temos o turismo ecológico. Por exemplo, Ituberá tem uma cachoeira brilhante, que deve ser aproveitada pelo ecoturismo. O turismo é um dos carros-chefes da região. O outro, que não pode deixar de ser, é o cacau, que sempre moveu essa economia. Agora estão surgindo grandes empresas de chocolate e isso tem que ser incentivado pelos governos estadual e federal.

Tem a habitação popular. Depois daquele programa de Dilma [Minha Casa, Minha Vida], não teve programa popular. Não vejo ninguém falar nisso, a não ser a nível federal. Antigamente, na Bahia, nós tínhamos a Urbis, com investimento grande na Bahia toda. Hoje, a gente não vê o governo estadual ter um incentivo nessa direção.

Na sua avaliação, as obras do governo baiano no sul da Bahia favorecem muito a Jerônimo? Isso é suficiente para bater o favoritismo de ACM Neto?

O governo estadual investiu muito em Ilhéus. Ilhéus tem muita gratidão pelo que foi feito. Na região, nem tanto. Tem cidade onde o Estado não conseguiu chegar. Por exemplo, a rodovia que sai de Canavieiras para a BR-101 está jogada às traças, há muitos anos. Lá em Canavieiras, da mesma forma, não tem nada de extraordinário feito pelo governo estadual. Até o aeroporto que tentaram fazer, não pousa ninguém lá, a não ser aqueles teco-teco. Mas, Ilhéus é grata. Vamos ver Itabuna. Qual investimento foi feito lá? Muito pouco. Já o Porto Sul é um investimento que veio com empenho total do governo do estado para a região. A gente não não pode deixar de reconhecer. Neto vai ter muita dificuldade. Vai ser uma disputa muito acirrada. Jerônimo vai crescer bastante. Vai ganhar quem no segundo turno souber agregar mais.

Há quem diga que Neto deve ganhar no primeiro turno. É uma análise otimista?

É prematura, é muito cedo para dizer isso. Ninguém conhecia Jerônimo. Todo mundo sabia que era o secretário de Educação, mas, com 20 dias de pré-candidatura, já pontua bem. Vai ser uma disputa muito grande. É claro que o poder desgasta, mas o governo não foi ruim com Wagner e não tem sido um governo ruim com Rui, de jeito nenhum, não tenho esse pensamento. Então, não vou dizer que seja muita pretensão [imaginar vitória no primeiro], mas não vejo assim. Tenho certeza que Neto estará no segundo turno. Se você me pergunta se com Jerônimo ou Roma, não sei. Só se acontecer algo que desgaste muito Jerônimo. E tem uma parte do eleitor de Neto que vai migrar para Roma.

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A experiência do fascismo na Itália tinha, pelo menos, três características centrais: nacionalismo chauvinista, autoristarismo e antissocialismo. É revelador que o nascimento do Partido Nacional Fascista tenha se dado oito meses após a fundação do Partido Comunista Italiano, criado em 21 de janeiro de 1921. Quando recrudesceu o regime, a partir de 1925, Benito Mussolini o fez com apoio da burguesia industrial, da monarquia italiana e do Vaticano, que só romperam com o Duce nos estertores da Segunda Guerra.

No Ocidente, a experiência italiana serviu de modelo para os regimes destinados a conter a expansão do comunismo, impulsionada pela Revolução Russa de 1917. No Brasil, o Golpe de 1930, além de extinguir a República Velha, mobilizou as oligarquias nacionais contra a ameaça comunista. Nessa época, antes do segundo golpe de Getúlio Vargas, em 1937, os principais adversários ideológicos dos comunistas eram os integralistas, que emularam o discurso nazifascista quando Hitler e Mussolini ainda eram exaltados por fatias expressivas da sociedade brasileira.

O lema Deus, pátria e família, dos integralistas, ganhou eco na Marcha da Família com Deus e pela Liberdade, que antecedeu o golpe responsável pela instauração da ditadura civil-militar, em 1º de abril de 1964. As reformas de base do então presidente João Goulart eram, segundo a propaganda golpista, a encarnação do comunismo no Brasil. Nas eleições de 2018, Jair Bolsonaro (PL) foi eleito presidente da República com sua adaptação do lema integralista: Brasil acima de tudo, Deus acima de todos. Às vésperas de tentar a reeleição, Bolsonaro retoma os ataques aos partidos e movimentos de esquerda, reduzindo o campo político adversário, mais uma vez, à ameaça comunista.

Nesta entrevista ao PIMENTA, o presidente do Sindicato dos Bancários de Ilhéus e ex-candidato a vice-prefeito, Rodrigo Cardoso, 43, resgata parte da história do Partido Comunista do Brasil no sul da Bahia e atribui a Jair Bolsonaro a peculiaridade da representação de um neofascismo antinacionalista. Também interpreta o significado da provável aliança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB) e defende a continuidade do projeto liderado pelo PT no governo baiano. Leia.

PIMENTA – Quando nasceu, oficialmente, o comunismo brasileiro?

RODRIGO CARDOSO – No dia 25 de março de 1922, em Niterói, fundado como Partido Comunista do Brasil (PCB). Em 1962, dentro de uma discussão interna do partido, uma ala mudou a sigla para PCdoB e outra mudou o nome para Partido Comunista Brasileiro, mantendo a sigla PCB. A gente pode dizer que, hoje, esses dois partidos são da herança da fundação do PCB de 1922.

Ainda existe disputa por essa herança?

Acho que não. Os dois partidos são herdeiros dessa tradição de luta em defesa do povo brasileiro, dos interesses nacionais, dos direitos sociais e dos direitos dos trabalhadores. Acho que isso não é mais visto como motivo de disputa.

Como o projeto revolucionário aparece no horizonte do PCdoB hoje?

O PCdoB entende que a luta pelo socialismo vive etapa, estrategicamente, defensiva desde o fim da experiência socialista no leste europeu. Apesar disso, já no século XXI, algumas experiências socialistas permanecem pujantes, como na China, que é a segunda economia do mundo e, potencialmente, a médio prazo, se tornará a maior. Outros países seguem firmes na luta pelo socialismo, além dos lutadores nos mais variados países do mundo. O cenário mais recente da crise estrutural do capitalismo, a crise financeira, apresenta a construção de uma alternativa socialista como necessidade para o mundo. No entanto, entendemos que esse é o processo de uma revolução longa, de retomada de iniciativa e de apresentação de um projeto socialista, com a consciência e a convicção de que o mundo, sob o capitalismo, estabelece um futuro muito difícil para as grandes massas e a maioria das nações.

Temos visto muitas comparações do comunismo como nazismo, a exemplo das declarações do youtuber Monark no programa Flow, que defendeu a legalização do partido nazista no Brasil. Como você analisa essa comparação?

Essa comparação só interessa aos fascistas e aos nazistas, tendo em vista que os comunistas foram os principais responsáveis pela derrota do nazi-fascismo na Segunda Guerra Mundial. Há uma contradição direta entre o comunismo e o nazi-fascismo. Quem estava alinhado com as experiências democráticas para derrotar o nazi-fascismo foi o bloco dos partidos e países socialistas. É absurdo estabelecer qualquer paralelo nesse sentido. O comunismo é uma ideologia humanitária, que busca a construção da igualdade, tanto da igualdade entre indivíduos, do ponto de vista dos direitos, quanto da igualdade econômica. O nazismo é a ideologia do racismo, da exclusão, da destruição, da barbárie. Esse é um paralelo falso. Alguns setores que buscam o liberalismo extremo acabam, na prática – e isso ficou muito claro na fala do Monark -, tentando naturalizar o nazismo.

No final da década de 1960, a vereadora Ida Viana Rêgo (MDB) deu apoio, em Ilhéus, à formação de um grupo de resistência armada à ditadura, que tinha militantes do clandestino PCdoB. Você tem informações sobre esse episódio?

A história dos comunistas em Ilhéus vem de Nelson Schaun, que era um intelectual, professor e teve relação com o movimento indígena do Caboclo Marcelino, dos tupinambás de Olivença. Na fase de pré-clandestinidade do período Vargas, Nelson Schaun foi uma das principais referências do Partido Comunista no sul da Bahia. Na ditadura, houve esse movimento clandestino, mas nós, do partido, temos poucas informações documentadas, apesar de termos rumores sobre essa questão. Durante o regime militar, Haroldo Lima era um dos principais dirigentes da Ação Popular, grupo da esquerda católica que acabou se incorporando ao PCdoB. Haroldo esteve na região, nessa tentativa muito embrionária de resistência armada, que não avançou. Posteriormente, na década de 1980, no processo de redemocratização, ainda na clandestinidade, mas funcionando dentro da ala progressista do MDB, os membros do partido vieram para a nossa região. Eram jovens militantes que tinham vínculo com o partido em Salvador. Foi o caso de Davidson Magalhães, de Itabuna, Gustavão, nosso principal dirigente de Ilhéus, doutora Fátima, advogada, doutor Renan. A partir daí, começaram a constituir a organização política do partido, que foi legalizado em 1985 e passou a se estabelecer na luta concreta da nossa região, tendo papel muito importante nos mais variados setores da juventude e dos trabalhadores. Militantes do PCdoB tiveram papel de protagonismo na luta pela estadualização da Uesc.

Quando começa sua história no partido?

Cheguei ao partido no ano 2000. Quando entrei na Uesc, em 1998, já havia o movimento estudantil forte e combativo, com uma história muito bonita dos comunistas na luta pela estadualização da universidade. O camarada Wenceslau Júnior, em especial, era referência muito forte no nosso movimento estudantil. A parti daí, entrei na militância. Fui do Centro Acadêmico de Direito, do Diretório Central dos Estudantes, dos conselhos da universidade. Depois, ingressei no movimento dos trabalhadores, porque já era funcionário do Banco do Brasil e me integrei à luta da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).

Quais são os desafios da atuação do PCdoB em Ilhéus, na Bahia e no Brasil?

Conquistamos um mandato na Câmara de Ilhéus, do vereador Cláudio Magalhães, primeiro vereador indígena da cidade. Essa vitória foi muito importante, como em Itabuna, o outro polo da nossa região, onde o partido elegeu a servidora e presidente do Sindicato dos Servidores Municipais, Wilmaci Oliveira. A existência dos parlamentares dá esteio muito forte para a militância do partido, que tem o desafio de ser instrumento da luta do povo. No caso da Bahia, temos relações com o Governo do Estado, tendo em vista que o partido faz parte da base, com Davidson [Magalhães] na Secretaria de Trabalho, Emprego e Renda e com participação na Secretaria de Política para as Mulheres, na Bahiagás e outros setores do governo estadual, nesse sentido de atrair políticas públicas que ajudem o desenvolvimento da região e melhorem as condições de vida do nosso povo.

Do ponto de vista político-eleitoral, o desafio é tentar manter esse projeto que tem trazido muitos avanços para a Bahia, que começou com Wagner, segue com Rui Costa e, a partir de agora, será liderado por Jeônimo Rodrigues. E o PCdoB também tem o objetivo de eleger seus parlamentares. Na região, temos como centro da tática política-eleitoral a pré-candidatura de Wenceslau Júnior, ex-vice-prefeito e ex-vereador de Itabuna, a deputado federal. Do ponto de vista nacional, o centro da nossa atuação política é derrotar o bolsonarismo. O Brasil não aguenta mais. O povo brasileiro está sofrendo demais, com perda do poder de compra [do salário mínimo], gasolina nas alturas, inflação disparada, desemprego alto. Um país estagnado, sem projeto, que precisa ser reconstruído. Na nossa visão, nesse momento, isso passa por um papel muito importante da liderança do ex-presidente Lula.

Temos visto dois argumentos sobre a provável aliança de Lula com Geraldo Alckmin, que deverá ser o vice do petista. De um lado, aponta-se acerto devido à necessidade de ampliação da frente democrática contra a reeleição de Bolsonaro. Entretanto, há quem diga se tratar de capitulação à política econômica que o ministro Paulo Guedes representa. Qual é o significado dessa nova parceria?

Está à altura da gravidade do momento político que vivemos. Como falei antes, nós, comunistas, damos muita importância ao enfrentamento do fascismo. E Bolsonaro é um dos principais representantes do mundo de uma corrente neofascista, de uma política de extrema-direita que busca restringir os espaços democráticos. No Brasil, temos a peculiaridade de ser um neofascismo antinacional, que busca ser autoritário e destruir os direitos do povo, mas também entregar o patrimônio nacional, a preço de banana, a grandes interesses econômicos estrangeiros. O fundamental desse governo de Bolsonaro, o que leva à unidade [da oposição], é a ameaça à democracia. Alguns dizem que a democracia é o pior governo que existe, mas o melhor já inventado. A defesa da democracia, que foi conquista histórica do povo brasileiro, leva à necessidade da maior união possível. Não vejo nenhum problema nisso. Tenho convicção de que isso não passa, necessariamente, por concessões do programa econômico. Afinal de contas, Alckmin, enquanto possível candidato a vice-presidente, já foi para o PSB, partido de centro-esquerda, que tem convicções do seu programa e é mais alinhado com o programa de Lula e das esquerdas. Portanto, se entrar nessa aliança, Alckmin entrará comprometido com o programa de governo de reconstrução do Brasil.

Rodrigo defende que Wagner recue do recuo e seja candidato a governador
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Nesta entrevista ao PIMENTA, concedida no fim da tarde de hoje (7), o líder sindicalista Rodrigo Cardoso (PCdoB) analisa os últimos movimentos e informações sobre a chapa governista para a eleição estadual.

Ele opina sobre o motivo de o senador Jaques Wagner (PT) ter retirado a pré-candidatura ao governo baiano e avalia as chances de vitória da coalização numa chapa sem o ex-governador petista.

O presidente do Sindicato dos Bancários de Ilhéus também sai em defesa da retorno de Wagner ao páreo eleitoral, com um recuo do recuo, para acabar com “tanta confusão”. Leia.

PIMENTAVocê classificou o imbróglio governista como “bate-cabeça”. Quantos passos atrás a coalização deu na disputa com o grupo de ACM Neto, se é que deu?

RODRIGO CARDOSO – Perde tempo, porque ACM já vem fazendo campanha desde que saiu da Prefeitura de Salvador. Enquanto isso, a base vinha se unificando com Wagner desde o fim do ano passado. Rapidamente, Wagner entrou na disputa com 30% [das intenções de voto]. Quando indica o apoio de Lula, ele chega no empate técnico [nas pesquisas]. Agora, com tanta confusão. Otto não se define, Wagner retira a candidatura e, no dia de hoje, parte-se do zero, com três novos pré-candidatos do PT. Acho que [o grupo] deu muitos passos atrás.

Antes de se lançar pré-candidato, Wagner deu sinais de que não desejava a candidatura?

Não. Acho que não. A todo momento em que se colocava, ele dizia da importância da unidade da base. Quando passou a ser pré-candidato, no fim do ano passado, ele demonstrava ser o principal candidato, justamente por isso: era o candidato que unificava.

Como você interpreta a retirada da pré-candidatura de Wagner? O que a explica?

Na minha opinião, Wagner recuou tendo em vista a decisão do governador Rui Costa de se candidatar ao Senado e a impossibilidade de o PT ocupar as duas principais cadeiras em disputa, numa coalização com tantos partidos importantes. Acho que Wagner recuou na perspectiva de garantir a unidade da base. Obviamente, o pleito do governador Rui Costa não deixa de ser justo, dentro do que ele considera o seu papel nessa frente. No entanto, tanta confusão a apenas sete meses da eleição, acaba atrapalhando muito. Demonstra desarticulação. Nas resenhas, o pessoal do carlismo está dizendo que, agora, são os nossos candidatos que estão correndo da disputa com ACM. O negócio ficou muito complicado.

Hoje, Wagner disse que Rui vai até o fim do mandato. Pode ser sinal de falta de confiança de passar o governo ao PP?

Acho que faltou articulação. Não sei se é falta de confiança, mas, com certeza, falta de articulação. Faltou combinar. Faltou discutir não só com o PSD e com o PP. Faltou discutir com o PCdoB, com o PSB, Podemos, Avante. Faltou discutir com a base. Quando não tem articulação, cada um faz a coisa da sua cabeça e acaba gerando esse tipo de ruído, que só faz atrapalhar.

Sem Wagner, diminuem muito as chances da manutenção da unidade da base e de uma vitória na disputa estadual?

Vejo que diminui a chance da unidade. Wagner é tido por todos como construtor desse processo. Tem muita autoridade política, por toda a influência, tudo que ele construiu aqui na Bahia e da sua influência nacional junto ao Partido dos Trabalhadores e ao próprio ex-presidente Lula. Acho que ele teria muito mais facilidade em unificar. Outras candidaturas, mesmo as do Partido dos Trabalhadores – por mais valor que tenham as lideranças que estão aí colocadas -, creio que terão mais dificuldade pra unificar. E a base desunida, acho que a chance diminui muito. Ainda tenho esperança que o bom senso prevaleça.

O que você chama de bom senso?

Nesse caso, concordo com a deputada [federal] Alice Portugal. Acho que Wagner deveria recuar do recuo. Ele recuou da pré-candidatura e deveria recuar no recuo, aceitar o retorno da sua pré-candidatura. Ele tem toda a condição de unificar a base. Tem todo o respeito de todas as forças políticas. Não teria contestações e teria muita competitividade na disputa, que vislumbro uma disputa dura.

Deijair prega foco e pés no chão para time ilheense chegar às semifinais do Baianão || Reprodução/Instagram
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O goleiro Deijair Nunes se recupera bem do edema na parte interna da coxa direita. Entrevistado pelo PIMENTA nesta quinta-feira (24), ele assegurou presença no duelo do Barcelona de Ilhéus contra o Jacuipense, no dia 6 de março, em Feira de Santana, pela sétima rodada do Campeonato Baiano 2022.

O próximo rival do Barça lidera a competição, com seis vitórias em seis jogos. O time ilheense é o terceiro colocado na tabela, com 11 pontos. “Estarei 100% na próxima partida, com certeza”, afirma Deijair.

Aos 23 anos, o goleiro é um dos destaques da campanha do Barcelona em sua primeira participação na Série A do estadual. Na quarta rodada, Deijair pegou pênalti cobrado pelo atacante Neto Baiano, da Juazeirense, e garantiu a vitória do Barça.

Perguntamos como foi a repercussão da defesa entre os colegas de clube. “Foi bem tranquila. Alguns já me conhecem e sabiam que eu pegava pênalti desde a base do Bahia e também durante os treinamentos”, respondeu.

“MUITO FOCO E PÉS NO CHÃO”

Nascido em Salvador, Deijar formou-se na base do Bahia e hoje mora em Itacaré, no sul do estado. Antes do Barça, jogou pela Juazeirense, Moura AC (clube de Portugal), União Barbarense (SP), Unirb e Parauapebas (PA). Ao PIMENTA, ele falou como o elenco encara a possibilidade de levar o Barcelona às semifinais do Baianão.

– Estamos muito focados. Sabemos que faltam três jogos e muitas coisas podem acontecer se baixarmos a guarda. Estamos muito contentes com nosso desempenho, mas sabemos que ainda não garantimos nada. Temos que ter muito foco e pés no chão -.

Jabes Ribeiro fala ao PIMENTA sobre montagem da chapa governista para a eleição estadual
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O secretário-geral do PP na Bahia, Jabes Ribeiro, diz que não há nada definido para a formação da chapa majoritária do grupo governista para a disputa do Palácio de Ondina e da vaga no Senado. Nesta entrevista ao PIMENTA, ele fala sobre as cartas que estão na mesa de discussão da base do governador Rui Costa (PT).

Com 69 anos de idade e quatro décadas na vida política, Jabes está em Salvador, onde participa ativamente das articulações do Progressistas. Por telefone, ele também falou ao site das movimentações do partido no sul da Bahia, especialmente em Ilhéus, município que governou por quatro mandatos (1983-1988; 1997-2000; 2001-2004; e 2013-2016).

Segundo o ex-prefeito, o Progressistas terá candidatos a deputado em todas as grandes cidades baianas, inclusive em Ilhéus e Itabuna. A montagem das chapas proporcionais é outro tema da entrevista.

Jabes também comenta a possibilidade de Rui Costa deixar o comando do governo estadual para disputar as eleições deste ano. Leia.

PIMENTAAs informações sobre a formação da chapa majoritária indicam dificuldade para essa equação. Só há uma vaga para o Senado e, naturalmente, uma vaga para a cabeça da chapa. O senador Otto Alencar pretende a reeleição. O senador Jaques Wagner é o pré-candidato do PT a governador. Qual será o papel do PP no arranjo da aliança? Há mesmo dificuldade para fechar essa conta?

Jabes Ribeiro – Primeiro, uma preliminar. Há esforço e interesse em garantir a unidade da base aliada. Esse fator é fundamental para conseguirmos o nosso objetivo, que é ganhar as eleições e garantir a manutenção do nosso projeto. Projeto, inclusive, que tem tido aceitação popular. Veja aí a aprovação que o governador Rui Costa tem em todo o estado. Esse é o nosso objetivo número um: preservar a unidade da base aliada.

Ponto dois. Pelo que sei – e tenho participado de todas as conversas que envolvem o PP -, não há nada definido em relação à chapa [majoritária]. Não há definição em relação a nada. Tudo é expectativa. O PT, por exemplo, apoia o nome do senador Wagner. Já o nosso partido propõe que o candidato a governador seja o vice-governador João Leão. Ouço que o PSD desejaria ter o senador Otto Alencar candidato à reeleição. No entanto, nada disso está fechado. Tudo ainda é motivo de conversas.

O que posso lhe garantir, no caso do nosso partido, é o seguinte: Leão não pode mais ser candidato a vice-governador. Ele está impedido por conta da legislação eleitoral vigente. Se não pode ser vice, só tem duas possibilidades: ser candidato a governador ou a senador. Ora, se todos desejam garantir a unidade da base, é preciso que todos tenham a compreensão de que Leão não pode ser vice.

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Leão não pode mais ser candidato a vice-governador. Ele está impedido por conta da legislação eleitoral vigente. Se não pode ser vice, só tem duas possibilidades: ser candidato a governador ou a senador.

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A manutenção da unidade é mesmo um desejo de todos os partidos da base?

Creio que sim. Todos nós ajudamos a ganhar as últimas eleições e ajudamos a governar. A experiência de Wagner, Otto Alencar e João Leão é indiscutível. Todos têm compromisso com a Bahia e com a preservação do projeto que tem sido implementado no estado. No nosso caso, não há uma posição intransigente. Por exemplo: se Leão diz: – o que não é o caso –  “Sou candidato a governador e não abro mão!”, isso não é fazer política. Isso não é querer unidade. Da mesma forma, se Otto Alencar afirma: “Sou candidato a senador e não abro mão pra ninguém!”, isso também não é lógico; nem acredito nessa visão por parte de Otto, que tem experiência.

Creio que esse jogo, essa equação, melhor dizendo, essa equação está sendo montada e montada de forma competente, porque tem na liderança dessa montagem a figura de Jaques Wagner, um homem treinado, acostumado a fazer articulação política. Ele é o grande construtor desse projeto, que começou em 2006. De nossa parte, não tem problema, há uma questão legal: João não pode ser vice. Se pudesse, tudo estaria resolvido.

A possibilidade de o governador Rui Costa se afastar do cargo e, consequentemente, de João Leão assumir o governo seria um caminho para fechar essa equação?

Veja. Nós não trabalhamos, dentro da negociação da chapa, com esse ponto. Ela pode ocorrer sim, depende do governador. É natural até que ela possa acontecer. O governador tem sete anos e quase dois meses à frente do estado, com uma administração exitosa, bem avaliada pela população. Ninguém pode obrigar o governador e dizer: “Você não vai ser candidato a nada. Vai ficar sem mandato.” Isso seria absolutamente insensato. Não teria lógica. Se ele disser:  “Eu quero ter mandato” – e ele ainda tem tempo para decidir -, é algo absolutamente legítimo. Creio que todos compreenderão isso, tanto o PSD, como o PP e os demais partidos da base.

Portanto, há uma situação a decidir e nós não temos porta fechada pra nada. Não depende de nós, essa é uma decisão do governador. Nós estamos dispostos a colocar na mesa essa questão e discuti-la. Não há nenhum dificuldade de nossa parte. Como você está vendo, o PP não é problema. O PP é solução. Seja qual for a possibilidade, estamos dispostos a discutir.

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O PP não é problema. O PP é solução. Seja qual for a possibilidade, estamos dispostos a discutir. Há apenas uma questão. O nosso nome para essa equação chama-se João Leão.

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Há apenas uma questão. O nosso nome para essa equação chama-se João Leão. Existem nomes valorosos no PP. Temos uma bancada de dez [deputados] estaduais e quatro federais. Temos prefeitos, ex-prefeitos, deputados, lideranças importantes, mas, dentro desse cenário, neste instante, o nome que temos para essa montagem, essa equação, é João Leão, que é unanimidade no PP por tudo que representa. Foi cinco vezes deputado federal, prefeito de Lauro de Freitas, vice-governador por dois mandatos, tem experiência administrativa, é secretário de estado. É um nome que contribui com o projeto de todos da base aliada.

O partido terá candidato em Ilhéus e Itabuna para as eleições proporcionais?

A executiva estadual definiu uma proposta no sentido de que, nas grandes cidades do estado onde o partido está presente – e está presente em todas -, devemos participar ativamente do processo eleitoral. Você faz política, articula, organiza, mas, na verdade, as eleições definem o poder político, seja no plano estadual, federal ou municipal. Por se tratar de uma eleição nacional, em que você tem a necessidade de eleger deputados federais, estaduais e senadores, essa situação faz com que o partido estimule seus quadros.

Ilhéus e Itabuna são duas cidades extremamente importantes para o partido. Trabalhamos para que essas cidades participem também do processo eleitoral para fortalecer o partido, para elegermos uma boa bancada federal, uma boa bancada de deputados estaduais. Por Ilhéus, posso garantir, teremos deputado federal ou estadual. Estamos discutindo. Também pretendemos que aconteça isso em Itabuna, Conquista, Feira.

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Por Ilhéus, posso garantir, teremos deputado federal ou estadual. Estamos discutindo. Também pretendemos que aconteça isso em Itabuna, Conquista, Feira.

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O nome em Ilhéus é o do ex-vice-prefeito Cacá Colchões, presidente municipal do Progressistas?

É o nome natural. O nome de Cacá é o natural pelo que ele representa, uma liderança importante do partido em Ilhéus, mas estamos discutindo.

Quais são os critérios para definir se a candidatura em Ilhéus será a deputado federal ou estadual?

Depende muito. Vamos analisar a seguinte situação. Em 2018, trazendo um pouco de memória, Cacá era candidato a federal. Em determinado momento do processo, ainda antes das convenções – claro-, houve um movimento em Ilhéus que levou o partido local a decidir que seria melhor que Cacá saísse a estadual. Seria candidato a federal, originariamente, mas houve um movimento político que levou o partido à avaliação de que seria melhor Cacá sair a estadual. Isso foi conversado com a executiva estadual e foi batido o martelo.

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Cacá foi o [candidato a] deputado mais votado de Ilhéus naquela oportunidade, mais votado na cidade. Mais votado entre todos os estaduais e federais. Não se elegeu, não é uma eleição simples, você sabe disso, mas saiu muito bem avaliado na cidade.

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Cacá foi o [candidato a] deputado mais votado de Ilhéus naquela oportunidade, mais votado na cidade. Mais votado entre todos os estaduais e federais. Não se elegeu, não é uma eleição simples, você sabe disso, mas saiu muito bem avaliado na cidade. Todas essas questões são objeto de análise. Estamos em 2022. Qual é o melhor caminho: termos uma candidatura do Progressistas a estadual ou a federal? O ideal seria que tivéssemos as duas, mas não é assim. As coisas não são exatamente como a gente deseja. No entanto, a recomendação da [executiva] estadual é que tenhamos candidato a federal ou a estadual. Analisamos uma série de elementos, de vetores, para saber como o partido vai participar desse projeto.

Repito: o nome natural é o de Cacá, mas, se por qualquer razão, Cacá não puder ou não tiver interesse de participar, vamos ter outro. O que posso acrescentar é o seguinte. Se Cacá não puder participar por uma decisão pessoal – repito: ele é o candidato natural, tem a prioridade -, queremos lançar uma mulher. Se você me perguntar qual, não vou lhe dizer agora. Não posso. Mas, certamente, seria algo muito importante pra cidade.

Apoio a Wagner (à esquerda) é possibilidade remota, segundo Félix Júnior
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O deputado federal Félix Mendonça Júnior considera remota a possibilidade do PDT apoiar o senador Jaques Wagner (PT) na sucessão estadual de 2022. Ao PIMENTA, o parlamentar e presidente estadual do PDT diz que não foi procurado pelo PT para conversar desde que o governador Rui Costa decidiu, “de forma unilateral”, romper com a legenda, no ano passado.

Segundo Félix, a tendência é o PDT apoiar o ex-prefeito de Salvador e dirigente do DEM/União Brasil, ACM Neto. As conversas entre PDT e Neto, disse ele, começaram em Brasília e prosseguem, em nível estadual, com ele.

Jaques Wagner diz que vai procurar a legenda brizolista. Terá que, primeiro, aparar arestas e um coração magoado pela “desfeita” de 2021. Na eleição de 2018, o PDT baiano apoiou Rui Costa, apesar da candidatura presidencial de Ciro Gomes. Wagner partirá para a investida, ciente de que Neto não dará palanque para Ciro na Bahia.

Veja o que nos disse Félix Júnior:

PIMENTA – Qual a possibilidade do PDT apoiar Wagner?

Félix Mendonça – O PDT apoiou, em 2020, a candidatura vitoriosa de Bruno Reis, do DEM, à prefeitura de Salvador. Indicamos, na época, a atual vice-prefeita da capital, Ana Paula Matos. Por conta disso, ano passado o PT decidiu de forma unilateral e por ciúmes romper com o PDT. Sequer fomos comunicados antes dessa decisão. De lá para cá, não fomos chamados para nenhuma conversa com o grupo do governador ou com o senador Wagner. Eu digo que, por conta desse histórico, essa possibilidade é remota. Além disso, temos que ter um palanque para Ciro Gomes na Bahia.

Com quem o partido fecha para 2022 na sucessão estadual?

Não podemos dizer ainda que esteja fechado, pois as conversas continuam, mas a tendência é estarmos com ACM Neto, inclusive participando da chapa majoritária. Essas conversas foram iniciadas entre Neto e o diretório nacional do partido, por meio do presidente Carlos Lupi, e prosseguem conosco, da estadual.

Wenceslau relembra luta por criação da Uesc: "tivemos a visão contrária de Antônio Carlos Magalhães"
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Thiago Dias

A Lei Estadual 6.344/1991, que criou a Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), completará 30 anos na próxima segunda-feira (6). Na última quinta (2), a Câmara de Vereadores de Ilhéus celebrou o marco histórico com sessão especial requerida pelo vereador Cláudio Magalhães (PCdoB). O PIMENTA cobriu a cerimônia e, com esta matéria, inicia série sobre a “maior invenção da civilização grapiúna” – para usar palavras do reitor Alessandro Fernandes de Santana.

Presente na sessão, o professor de Direito Wenceslau Júnior, ex-vice-prefeito e ex-vereador de Itabuna, apresentou ao PIMENTA seu ponto de vista sobre a história da qual fez parte como liderança estudantil. Ele foi o único presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) que exerceu o mandato nas duas instituições, primeiro na Federação das Escolas Superiores de Ilhéus e Itabuna (Fespi) e, depois da estadualização, na Uesc.

FOGUEIRA DE CARNÊS

Quadro orgânico do Partido Comunista do Brasil, Wenceslau Augusto dos Santos Júnior, 51, relembra que a década de 1980 foi marcada pela ascensão neoliberal. Na presidência de José Sarney (1985-1990), os acordos MEC-USAID ainda pressionavam o Brasil a adotar um modelo de privatização do ensino superior, sob a influência política norte-americana. Na sigla em inglês, USAID significa Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional.

Como quase tudo no sul da Bahia, a história da Uesc é atravessada pela saga do cacau. A família Nabuco, que doou o terreno onde o Campus Soane Nazaré seria erguido, foi grande produtora do fruto de ouro. A Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac) chegou a cobrir 70% dos custos da Fespi, conta Wenceslau. “Os outros 30% eram custeados pelas mensalidades”. Além disso, a universidade herdou o patrimônio do Instituto de Cacau da Bahia (ICB), extinto em 1992.

A crise da lavoura cacaueira descambou no fim do financiamento. “A Ceplac perdeu muito recurso e não tinha mais como bancar a universidade. Qual foi a solução encontrada por quem dirigia a universidade na época? Aumentar a mensalidade. O aumento foi de 300%. Mesmo que quisessem, os estudantes não tinham condições de pagar. Isso foi em 1987, por aí”, recorda Wenceslau. Indignados com o arrocho, os alunos fizeram uma fogueira com os carnês da mensalidade. “E, a partir daí, começou essa luta”.

Cláudio Magalhães, o ex-reitor Joaquim Bastos, a ex-reitora Renée Albagli e o reitor Alessandro Fernandes || Fotos PIMENTA

TODA LUTA TEM, PELO MENOS, DOIS LADOS

É quase impossível encontrar alguém que tenha sido contra a fundação da Uesc ou, ao menos, que tenha coragem de dizê-lo. Mas, se pessoas travaram uma luta, significa que a estadualização enfrentou resistência. De quem? “Na Bahia, nós tivemos a visão contrária do então governador Antônio Carlos Magalhães”, respondeu Wenceslau Júnior.

Para o comunista, ACM somebte sancionou a Lei 6.344/1991 quando a pressão popular tornou-se irresistível. Já o antecessor de ACM agira diferente. “Quando cheguei, ainda era Fespi, mas já era gratuita, porque [o então governador] Waldir Pires garantiu a gratuidade em 1988 e fez constar na Constituição do Estado da Bahia, a Constituição de 1989, que iria criar a Universidade Estadual de Santa Cruz”, relembra.

Wenceslau Júnior atribui a Davidson Magalhães, secretário de Trabalho, Renda e Esporte da Bahia e presidente estadual do PCdoB, a leitura política que definiu a estadualização como objetivo do movimento popular. Na época, outra corrente defendia a federalização, mas, segundo o professor de Direito da Uesc, essa era uma perspectiva até ingênua diante da conjuntura histórica.

No auge da luta pela estadualização da Fespi, Davidson era vereador de Itabuna, o ex-deputado federal Haroldo Lima (1939-2021) representava a Bahia no Congresso e o professor Luiz Nova era deputado estadual. Conforme Wenceslau, esses três mandatos do PCdoB deram suporte ao movimento, mas o processo político foi capitaneado pelos estudantes, especialmente os comunistas da Viração, corrente estudantil do partido.

“O movimento docente foi importante, participou, fez greve, assim como os servidores, mas a condução da luta foi do movimento estudantil. Essa vitória foi do movimento estudantil da Uesc, que dirigiu de forma ampla e radical, como dizia Haroldo Lima. Era uma luta radicalizada, mas ampla. Ou seja, quem defendia a bandeira tinha voz e espaço. Como lhe disse, até deputados do PFL acabaram vindo participar, prefeitos de todos os partidos. Enfim, o movimento estudantil teve essa capacidade de dirigir com a radicalidade necessária e com a amplitude também necessária para que essa fosse uma luta da região”.

MC Jef Rodriguez comenta músicas de Spiritual, seu 1º disco solo || Foto Alice Magalhães
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O MC Jef Rodriguez, da banda OQuadro, lançou Spiritual, seu primeiro disco solo, que está disponível em todas as plataformas da internet. Nesta entrevista ao PIMENTA, o músico nascido em Banco Central, distrito de Ilhéus, no sul da Bahia, fala sobre processo criativo, infância na zona rural, origem familiar, racismo, política e parcerias na produção do álbum. Leia.

PIMENTAComo surgiu a ideia de fazer o trabalho solo?

JEF RODRIGUEZ – As pessoas já me falavam há um tempo: “Quando é que você vai lançar uma parada sua?”; “Fico curioso de ver”; “Gosto das coisas que você escreve”; “Você escreve de uma maneira diferente”. Não me via nesse lugar. Não escrevia em quantidade. Sempre escrevia com OQuadro, chamando um parceiro pra fazer a parte dele e vice e versa. Meus parceiros Rans, Freeza e Rico me traziam coisas nesse jogo de construção coletiva. Pintou essa oportunidade com a Lei Aldir Blanc na Bahia.  Minha amiga Márcia falou: “A hora de gravar e produzir uma coisa é agora!”. Marcia Espíndola, da Mochi Filmes, que é uma amiga há muito tempo. Eu falei: “Como assim, Marcia?”; e ela disse: “Rapaz, me dê só seus documentos e eu vou achar alguém para escrever [o projeto] pra você, não quero que você perca essa oportunidade, sei que você já tem um monte de coisa aí sobrando. Inscreve na categoria EP. Você tem que ter um produto seu. Eu falei: “Então tá bom!” Mandei os documentos, e ela articulou pra alguém escrever e fluiu. Eu me vi maluquíssimo, porque eu fui pro estúdio com OQuadro pra escrever e saía para produzir o meu. Foi assim num intervalo de dias. Não foi uma coisa que eu planejei a minha vida inteira. As pessoas chegaram até mim e construíram essa ideia na minha cabeça. São sinais da caminhada.

Você falou ao PIMENTA de como o cuidado com a escrita é uma característica d’OQuadro que, inevitavelmente, influenciou o disco solo – e isso é algo que podemos atestar. Como percebe a evolução do seu processo criativo ao longo desses 20 anos?

Tenho praticado cada vez mais e estou me permitindo escrever de outras formas. De repente, chegar com papel e caneta aqui e deixar fluir o que a própria caneta e o papel querem dizer, como um processo terapêutico, um exercício, até para perder o controle e vê o resultado. Depois, naturalmente, você olha, faz um processo seletivo e organiza de outra forma no papel. Mas, veja, eu tenho uma oficina de escrita toda quarta-feira à tarde. Tem um grupo de WhatsApp, organizado por mim e por um amigo, Telto. A gente tem uma oficina de rima e poesia. É uma oficina de escrita livre, com intenção poética, mas a própria concepção de poesia é tão aberta que não pode ser engessada num lugar. Toda prática vai te levar a aprimorar um pouco mais. O que eu mais quero é ter grande quantidade de coisas escritas. Essa é uma busca, porque é uma coisa que eu não tinha muito. Eu sempre demorei muito pra escrever, no primeiro e no segundo discos d’Oquadro.  Sobre a qualidade, eu prefiro que a avaliação seja das pessoas. Não sei o quanto é bom, o quanto não é. Eu sei o que fala comigo, o quanto é honesto na entrega. De repente, se você mostrar isso para Kendrick Lamar, ele vai dizer assim: “Ah, mais ou menos”. É sobre isso. Quero fazer cada vez melhor e poder explorar novas estéticas. A palavra, o som e o posicionamento político não divergem tanto. A estética e a política não são coisas tão separadas. Essa é uma perspectiva muito aristotélica, de colocar as coisas em gavetas, mas as coisas estão conectadas. Quando você escolhe as cores para um bloco-afro, por exemplo, isso já um posicionamento político. Se eu não percebo o significado daquela marca na minha roupa, isso mostra o quanto estou alheio ao processo, enfim, é complexo.

Aproveitando que você entrou na discussão política, vamos falar de Aboio. Quem fez a música com você e quais foram os dados da realidade atual que inspiraram o tema?

O Brasil funciona a partir da perspectiva de uma elite que quer se manter no poder olhando para o país como o seu quintal

Todos os dados do momento. Quem participa primeiro é CT. Ele é MC e faz parte de um grupo chamado Caixa Baixa, de Niterói, e do 1kilo, que é um grupo muito famoso. Estourou no Brasil inteiro com a música “Deixe-me ir”, milhões e milhões de visualizações. Ele é um dos compositores dessa faixa – deve viver de royalty até hoje, é meu amigo, hein. Também participou Rone DumDum Afolabi, que é membro do Opanijé, um dos grupos mais importantes da história do rap nacional. Opanijé não é o grupo mais conhecido, mas é um dos mais importantes, estética e politicamente. Eles são Os Tincoãs do rap brasileiro.

Essa música [Aboio] nasce assim: CT tinha uma letra e sempre frequentou minha casa, sabe como eu escrevo. Ele queria uma participação minha no Caixa Baixa. A gente chegou a escrever pro Caixa Baixa, mas não deu muito certo. O grupo estava indo em outra direção. A gente acabou fazendo outras músicas. Essa aí ficou meio paradona, sobrando e eu falei: “Quero pra mim”. A gente ouviu uns beats de Bidu, um amigo de Niterói, que é um beatmaker muito talentoso. Eu trouxe o beat pra Rafa [Dias]. Ele reorganizou da maneira dele. A gente deu umas ideias, inclusive a de colocar o sample de aboio.

Esse pensamento colonial persiste no Brasil. Bolsonaro é só a cereja no bolo desse processo inteiro. A gente está vivendo o ápice e a faceta mais descarada desse processo.

“Aboio” fala de um processo alienante do Brasil, que não é de agora, é histórico. O Brasil funciona a partir da perspectiva de uma elite que quer se manter no poder olhando para o país como o seu quintal. E todas as pessoas que estão ali têm que ser servis a esse modelo. Tudo tem que caminhar na direção dessas pessoas, que são herdeiras dos colonizadores. Esse pensamento colonial persiste no Brasil. Bolsonaro é só a cereja no bolo desse processo inteiro. A gente está vivendo o ápice e a faceta mais descarada desse processo. Quando você diminui o poder do Estado para fortalecer a iniciativa privada, uma parte importante do controle social fica na mão dessas pessoas. Ainda tem a militarização e o papel das religiões nisso. É um processo alienante em dimensões que a gente não consegue nem contar. São camadas e camadas históricas que a gente não consegue desconstruir. A própria escola contribui para que isso aconteça, por mais que os professores tentem fazer alguma coisa. A estrutura escolar pública não é nada diante das questões sociais brasileiras e de uma questão racial que não se resolve nunca – e não há a intenção de resolver isso. Inclusive, teve uma fala de Lula na última entrevista dele. Por mais que exista boa intenção por parte de algumas camadas da esquerda, a própria esquerda não sabe lidar com isso. Então, a gente é meio gado mesmo.

Você fala da entrevista com Mano Brown?

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Valderico Junior: só Deus pode evitar candidatura de Neto ao governo estadual || Foto Nadson Carvalho
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Pesquisas eleitorais desenham cenário favorável a ACM Neto na corrida para o Palácio de Ondina. Apesar disso, há quem levante a hipótese de o presidente nacional do DEM não ser candidato a governador da Bahia em 2022, escolhendo candidatura ao Senado.

Entrevistado hoje (13) pelo PIMENTA, o presidente do DEM-Ilhéus, Valderico Junior, disse que essa possibilidade é nula. Na verdade, segundo ele, Neto só não será candidato a governador se essa for a vontade de Deus.

O ex-prefeito de Salvador chegará ao sul da Bahia nesta quinta-feira (16). Na entrevista abaixo, Valderico Junior fala da repercussão do anúncio da visita de Neto à região e explica a ausência do vice-prefeito de Itabuna, Enderson Guinho (DEM), na reunião que vereadores itabunenses tiveram com o líder democrata na capital baiana. Também comenta o próprio futuro político e a possibilidade de disputar o pleito de 2022. Confira.

PIMENTA – Como foi a reação da cena política regional ao anúncio da visita de ACM Neto ao sul da Bahia?

VALDERICO JUNIOR – A gente fica feliz de ver a receptividade ao nosso futuro governador – nós estamos trabalhando, diuturnamente, para que isso possa acontecer. A gente vê o povo querendo a mudança. Em 2022, termina um ciclo de governos de 16 anos e começa uma nova etapa na Bahia. Tem sido uma resposta muito positiva. Eu vejo um crescimento gigantesco. O nome de Neto tem muito apelo popular, pela história do avô e pela administração dele na Prefeitura de Salvador, o melhor prefeito do Brasil.

Há quem diga que existe a possibilidade de Neto não ser candidato a governador. Você acredita nessa possibilidade?

Só se Deus não quiser. Acho que só Ele pode fazer isso hoje, pelo jeito que o povo tem a vontade que Neto seja nosso governador e pela vontade que vejo nele, discutindo todos os assuntos que interessam à Bahia. Neto tem sido participativo, tem buscado, tem lutado, tem feito alianças importantes. É nula a opção de ele não ser candidato a governador em 2022.

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A gente está fazendo um projeto com total transparência, sem vaidades.

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Repercutiu na imprensa a ausência do vice-prefeito Enderson Guinho numa reunião recente. Houve algum mal-entendido? Como está a relação com Guinho?

É uma relação boa. Guinho é um jovem promissor da nossa região. Eu não tenho dúvidas do trabalho que ele vem fazendo, buscando essa representatividade no município de Itabuna. Ganha o partido, ganha o sul da Bahia, com mais um grande líder. Ele tem feito um trabalho bacana e comprou a briga do Democrata. O que aconteceu foi que eu estive na Câmara de Vereadores de Itabuna e fui comunicado do interesse dos vereadores de estarem com Neto, inclusive antes da possibilidade de Neto estar aqui. Isso foi na quarta [8] e na quinta-feira [9] eu tinha agenda em Salvador. A bancada de vereadores que ia era maior, mas foi um tiro muito curto, a gente conseguiu um furo na agenda de Neto e a agenda acabou impossibilitando a presença de Guinho. No outro dia, os vereadores se reuniram com Guinho – o que foi uma proposta feita por mim. Não tem rachadura. A gente está fazendo um projeto com total transparência, sem vaidades. Eu tinha um espaço na agenda de Neto e cedi para que os vereadores pudessem estar lá e adiantar essa aproximação.

Você já disse que pensa mais no futuro, em 2024, do que nas eleições do próximo ano. Hoje, a possibilidade de ser candidato em 2022 parece mais real?

Eu quero trabalhar para que a gente possa ter força na nossa região. Quero trabalhar para que a região possa ser respeitada politicamente. Farei o que puder fazer para que isso ocorra. Candidatura foi uma coisa que eu pensei muito em 2020, quando saí candidato a prefeito de Ilhéus. Nós tivemos do 0 a quase 21 mil votos. Ficamos em 2º lugar, trilhando um caminho natural para 2024 – claro que depende muito do nosso trabalho, da atenção que a gente der a isso.

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Nós tivemos do 0 a quase 21 mil votos. Ficamos em 2º lugar, trilhando um caminho natural para 2024 – claro que depende muito do nosso trabalho, da atenção que a gente der a isso.

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Nós estamos conscientes desse processo, mas sou um cara de grupo. Eu estou aprendendo com erros e acertos. Se o partido entender que seja necessária a nossa candidatura para 2022, a gente tem que estudar. Eu não entraria para compor legenda, simplesmente. Não é meu perfil, procuro não ser assim na minha vida. Paralelo a isso, se a gente estudar que existe viabilidade eleitoral e o partido entender que isso deve ser feito, eu (sic) à disposição. Eu discuto isso com os deputados da nossa base, Pedro Tavares, Leur Lomanto [Júnior] e outros deputados que nos apoiaram na campanha, falo dos deputados do Democratas. O presidente [estadual do DEM] Paulo Azi conversa comigo [sobre a candidatura] e ACM Neto pediu essa pré-disposição.

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Eu consegui viabilizar uma visita de ACM Neto na Lagoa Encantada, pra gente falar do potencial turístico da Lagoa. Eu sou apaixonado pela Lagoa Encantada.

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Como será a agenda de Neto no sul da Bahia?

Ele vai chegar entre 9h e 9h30min, a gente vai ter a coletiva já no aeroporto. Às 10h, nós vamos para a Faculdade de Ilhéus, onde teremos um bate-papo – eu digo bate-papo porque é uma coisa leve, não é debate – com alguns segmentos da cidade, do turismo, do cacau, CDL, Polo Industrial, 2 horas de bate-papo. Eu consegui viabilizar uma visita de ACM Neto na Lagoa Encantada, pra gente falar do potencial turístico da Lagoa. Eu sou apaixonado pela Lagoa Encantada. Eu não tenho dúvida que vai ser um momento histórico. Depois iremos a Uruçuca, onde cumpriremos agenda com o prefeito Moacyr. Na sexta-feira, a gente vai conhecer o projeto do vereador Fabrício Pancadinha em Itabuna e seguir para o aniversário de Buerarema.

Contrapartida da Fasa injetou R$ 3,4 milhões na saúde de Itabuna, estima Lívia Mendes
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O Café com Pimenta desta quarta-feira (8) recebeu a secretária de Saúde de Itabuna, Lívia Mendes Aguiar, para uma conversa sobre a gestão da pasta. Um dos assuntos abordados foi o esforço da Prefeitura para resgatar recursos ligados ao Programa Mais Médicos, que passou a ser chamado de Médicos Pelo Brasil em 2019.

O principal objetivo do programa é levar médicos para cidades interioranas, pois a maioria desses profissionais atua em grandes centros urbanos. A interiorização das faculdades de Medicina também é estimulada. A chegada da Faculdade Santo Agostinho (Fasa) a Itabuna, em 2018, se deu nesse contexto, já que o município grapiúna é um dos principais polos de educação do interior da Bahia.

Segundo a secretária Lívia Mendes, o vínculo das faculdades de Medicina com o programa do governo federal prevê contrapartida para os municípios onde elas se instalam. No caso de Itabuna, a Secretaria Municipal de Saúde não conseguiu obter os recursos dessa contrapartida até 2021, porque o município não tinha o Contrato Organizativo da Ação Pública da Saúde (Coaps), instrumento interfederativo de regulamentação do setor.

No início deste ano, a Prefeitura encaminhou a criação do Coaps, o que permitiu a assinatura do convênio com a Fasa, explica Lívia. “Demos muita sorte, porque a gente conseguiu resgatar uma coisa que estava parada desde 2018”.

A secretária estima que os recursos do convênio equivalem a cerca de R$ 3,4 milhões. Esse valor abarca todas as formas de contrapartida oferecidas pela Fasa, a exemplo da reforma de 12 unidades de saúde, o centro cirúrgico da nova Policlínica Municipal, insumos e diversos equipamentos, inclusive para a reativação do serviço odontológico nos postos. O convênio também beneficiou 40 servidores da Secretaria Municipal de Saúde, que receberam bolsas de pós-graduação.

Na entrevista, a secretária também falou sobre o impacto sanitário da pandemia de covid-19 em Itabuna e o estágio atual da campanha de vacinação. Assista.

O Café com Pimenta é resultado de parceria do ÍPolítica Bahia com o Blog do Thame e o PIMENTA.

Rilson Dantas na capa de "Incansável correnteza de ilusões" || Arte de Arlécio Araújo
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O músico itabunense Rilson Dantas, 34 anos, vai lançar seu primeiro EP, Incansável Correnteza de Ilusões, na noite desta sexta-feira (3), em live no Instagram (@rilson_dantas), a partir das 20h.

Na entrevista abaixo, concedida hoje (2) ao PIMENTA, o filósofo, professor de Inglês e cartomante faz uma retrospectiva da sua persona musical, gestada num ambiente familiar que tinha a música como protagonista.

Também fala da produção do EP e reflete sobre o significado da sua relação com a música. No fim da conversa, Rilson Dantas diz o que sente em meio à expectativa para a retomada dos shows presenciais, após o avanço da vacinação contra a Covid-19. Confira.

PIMENTAComo foi o começo da sua relação com a música?

RILSON DANTAS – Eu cresci num ambiente musical. Meu pai toca. Som Bossa é o nome artístico dele. Ele trabalhava como servidor público, agora está aposentado, e também tocava à noite. Tocava bossa nova, samba. Eu cresci nesse ambiente musical. Minha mãe não tocava, mas ela ouvia muito. Meu irmão é guitarrista. Aí a gente vai sendo meio condicionado por aquele contato. Eu já ouvia música desde criança. Aquela velha história: eu cantava ali, fazia uma apresentação ou outra. Era “coagido” a fazer parte. Minha relação com a música se deu nesse lugar.

Seu pai toca no disco?

Não, ele não participou. A gente fica amarrando pra começar alguma coisa junto, sabe? O perfeccionismo não deixa, fica aquela coisa toda, ele não participa. O disco tem dois músicos, um cara que toca bateria, e o outro que faz todos os arranjos. Eu ia solfejando, cantando pra ele e dizendo: “Ah, quero que seja assim”.

Quais são os nomes deles?

Gabriel e Adilson Vieira. Eu faço uma ressalva: a música Invisível foi produzida pelo [estúdio] Canoa Sonora, do meu querido Ismera, que toca guitarra e também mixou.

Você consegue definir os gêneros pelos quais o EP transita?

Ele passa ali no grunge, pop, pop rock. Quando fico na dúvida sobre qual é o estilo, chamo de música alternativa. Mas, eu diria que grunge e pop são os lugares que ele passa, pela questão estética mesmo. Tem umas guitarras mais roncadas. A voz tem um pouquinho de drive, tem uns berros. E também pela parte melódica, estrutural mesmo.

Você falou que o EP é a primeira oportunidade de contar uma história, no sentido de que as músicas têm uma sequência. Antes, você gravou quantos singles?

Gravei quatro músicas, todas autorais. Lancei também uma parceria com um cantor chamado André Azevedo e gravei uma música dele também. Até então, foram quatro singles, sendo um deles em inglês.

O EP tem música em inglês?

Vai entrar essa música que já lancei, chamada Disrespect. A galera gostou muito, se identificou bastante. Eu achei interessante [a recepção do público], porque quando lancei, eu disse: “Vou lançar essa música só pra mim mesmo, porque eu gosto e ela tem um significado pra mim”. E a galera se amarrou. Eu também pensei: “Gravando em inglês aqui no Brasil…”. Tem sempre essa questão, por mais que eu goste de várias bandas que gravam em inglês, tinha essa questão da distância da linguagem. Enfim, vai entrar no EP numa versão acústica, só com violão e piano.

Você pode falar do significado especial que essa música tem para você?

Eu a escrevi em 2008, por aí. Foi a primeira música em inglês que escrevi. Eu ainda tava caminhando – eu estou caminhando ainda -, mas já estava começando a pensar em algo maior: “Quero trabalhar com música, de repente, um dia”. Eu senti uma satisfação muito grande por ter escrito em outra língua e porque eu considerava a relação que me inspirou essa música uma amizade tóxica, que acabou. Então eu senti dando um passo. É estranho falar sobre, mas é esse o significado que ela tem.

Um psicanalista poderia dizer que foi uma forma de elaboração.

Ave Maria! E pior que foi isso mesmo. É engraçado, porque as minhas músicas – isso acontece comigo – elas têm esse significado. Não só as músicas, as outras coisas que escrevo, aleatório (meus alunos que gostam dessa palavra: aleatório; já peguei com eles), eu consigo elaborar. Tem música que gravei para esse EP e falei: “Putz! Eu tô me repetindo, velho, já passei por isso. Eu acho que consigo me livrar dessa situação. Acho que agora já consigo entender melhor. Tem uma elaboração aí. Tem uma questão psicológica envolvida. E autossatisfação também, né?!

Como está a retomada dos shows? Os bares e o mercado, de uma forma geral, já estão solicitando?

Estão. É engraçado, porque estou apreensivo. Não pela questão da pausa, porque mesmo com a pausa, já me apresentei. É pela situação. As pessoas estão convidando há um bom tempo. Estou sempre falando da vacina, da pandemia. Estou mais apreensivo por conta da situação. A minha mente ansiosa é complicada. Às vezes, fico pensando que a gente está procurando ganhar dinheiro e divertimento no meio do Apocalipse. A ansiedade talvez seja por conta da situação, não pelo mercado. Eu penso que barzinho é para ganhar dinheiro. Eu me sinto um produto, um disco, alguém ali tocando, mas raramente eu sou a atração daquele lugar, exceto quando o bar é musical mesmo, onde a música ganha relevância. No geral, a gente está só ali tocando, com um ou outra pessoa prestando atenção. Eu sinto saudade dos eventos que produzia antes, que eram tributos a artistas, um sarau, porque eu conseguia tocar minhas músicas autorais e me sentia escrevendo uma história. É diferente de estar ali no bar reproduzindo. São dois lugares bem diferentes.

Ouça a música “Me deixe aqui”, faixa de Incansável correnteza de ilusões.

Jaqueline Andrade fala pela primeira vez após o parto de Fanny, sua quarta filha, que nasceu na calçada da Maternidade Santa Helena
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Jaqueline Andrade não recorda o que aconteceu nos momentos seguintes ao instante em que Fanny começou a deixar seu útero, na manhã do último dia 15, na calçada da Maternidade Santa Helena, em Ilhéus. Do parto na rua, lembra apenas de ouvir a voz do marido, Felipe, pedindo que ela tentasse se manter acordada. Nesta entrevista ao PIMENTA, a jovem de 27 anos fala pela primeira vez sobre a experiência, que define como humilhante.

Para Jaqueline, o parto só ocorreu na rua porque o serviço de recepção da maternidade não ouviu os apelos de Felipe por ajuda. Ela estima que decorreram 20 minutos desde a chegada ao local, às 6 horas, e o rompimento da bolsa.

Por outro lado, a direção da Santa Casa de Misericórdia de Ilhéus, responsável pela maternidade, afirmou, em nota pública, que a parturiente já chegou ao local em trabalho de parto num estado muito avançado, inclusive com a expulsão do feto, o que impossibilitou o uso de cadeira de rodas para acolhê-la dentro da unidade.

Momento do parto foi registrado em fotos que circularam nas redes sociais

O advogado da família, Dimitre Carvalho Padilha, informou, em nota enviada ao site, que vai solicitar as gravações das câmeras de segurança instaladas em torno do hospital. Com isso, espera esclarecer a cronologia dos eventos daquela manhã e outros pontos controversos. Para ele, a demora do atendimento submeteu a família, sobretudo a criança e a mãe, a um constrangimento desumano e degradante.

“Mesmo após o parto, não foi fornecida cadeira de rodas pelo hospital. A criança foi enrolada em uma toalha suja trazida pela família para enxugar o líquido perdido pela parturiente. Uma pessoa que presenciou os fatos foi quem entrou na maternidade e pegou uma cadeira de rodas para ajudar a família”, relata Dimitre Padilha.

O advogado também afirma que, considerando o risco da gravidez de Jaqueline – diagnosticada com mioma intrauterino e pedra na vesícula -, ela deveria ter sido internada na noite de segunda-feira (14), quando esteve na Santa Helena. “Caso [a maternidade] adotasse a referida conduta, a vida da gestante e sua filha não seriam expostas aos riscos experimentados”, escreveu o advogado.

Segundo Jaqueline, a enfermeira que lhe atendeu naquela noite recomendou que ela voltasse na manhã seguinte. Pelas suas contas, Fanny, quarta filha do casal, nasceu após 41 semanas de gravidez. Ontem (22), a família levou o caso ao conhecimento da Polícia Civil.  Leia a entrevista.

BLOG PIMENTANa última terça-feira, você deu à luz na calçada da Maternidade Santa Helena. Qual é o significado disso para você?

JAQUELINE ANDRADE – Eu achei muita humilhação, porque é uma coisa que nunca pensei que eu iria passar. A gente vê acontecendo com outra pessoa, mas nunca imagina passar por isso. É muita humilhação.

Por que sua gravidez era de risco? Quando você descobriu isso?

Antes de engravidar, eu já sabia que estava com pedra na vesícula e o mioma.

Onde você fez o acompanhamento pré-natal?

Eu fiz o pré-natal no CSU [Centro Social Urbano] e CMAE [Clínica Municipal de Atendimento Especializado].

A maternidade foi informada que era uma gravidez de risco?

No dia anterior, eu estive lá e eles já sabiam.

Na segunda-feira (14), você teve a oportunidade de dizer – para uma médica, enfermeira ou outra pessoa do hospital – que a sua gravidez era de risco?

A enfermeira olhou a caderneta. No ultrassom, ela circulou o peso da criança, que estava marcando um número grande [Fanny nasceu com 4 quilos, segundo Felipe]. Ela perguntou porque eu estava fazendo o acompanhamento com a doutora Cintia [Maria Freire Silva], no CMAE, que é só gravidez de risco. A gente falou que eu tenho pedra na vesícula e um mioma.

Quando você foi à maternidade pela primeira vez?

Eu não lembro o dia exato.

Foi no início da gravidez?

Eu fui na maternidade com 41 semanas e 5 dias de gravidez.

Foi fazer uma avaliação?

Foi, porque já estava saindo o tampão [do colo do útero].

Isso foi quando?

No dia 14 [de junho], à noite.

A primeira vez foi no dia 14?

Eu já tinha ido duas semanas antes, mas elas [as enfermeiras] fizeram o toque e falaram que não estava tendo dilatação, e o útero ainda estava alto. Disseram que a contagem [do tempo de gravidez] do ultrassom estava errada. O ultrassom estava marcando 41 semanas e 5 dias. Aí ela falou que refez a contagem e o ultrassom estava errado. [Explicou] que o último ultrassom não conta as semanas; eles usam só para olhar o tamanho do bebê, como o bebê está, a placenta, mas não conta as semanas. Ela foi olhar no caderno da gestante, a caderneta. Ela olhou o primeiro ultrassom e falou que faltavam três dias para fazer 41 semanas. Era para eu retornar no dia 12 [de junho], no máximo, caso sentisse alguma coisa. Como não senti nada, fui lá no dia 14, na segunda-feira. Lá, ela falou que eu estava com dois dedos de dilatação e mandou eu vim embora. Era para voltar caso sentisse dor ou se a bolsa tivesse estourado, tivesse sangrando, alguma coisa. De madrugada as dores já começaram. Eu cheguei lá 6 horas da manhã. Quando [Felipe] foi fazer a ficha, ela pediu para esperar, porque estava ocupada. A contração já estava vindo muito. Foram duas na porta da maternidade. A bolsa estourou na segunda, e a menina nasceu.

Como foram os momentos seguintes ao parto?

Eu só lembro da hora que a cabeça dela estava saindo. E daí eu só lembro depois, lá dentro, quando botaram o soro em mim.

Você chegou a desmaiar?

Eu não lembro. Eu só lembro do meu esposo me chamando, pedindo para eu reagir, enquanto eles colocavam remédio na minha veia para voltar ao normal.

Felipe disse que Fanny nasceu com falta de ar.

Ela nasceu com o cordão [umbilical] enrolado no pescoço e com insuficiência respiratória, baixa saturação. Foi para a incubadora e ficou lá a manhã inteira, da hora que nasceu até 1 hora da tarde, recebendo oxigênio e sendo monitorado os batimentos dela.

Você também ficou lá?

Eles me levaram para o quarto umas 11 horas da manhã. Eu fiquei esperando até o horário dela subir.

A partir desse momento, então, a maternidade lhe acolheu?

Acolheu ela [Fanny], porque só deram remédio na minha veia para eu reagir. Quando eu estava lá, eles não me deram nem um remédio para dor.

Você passou quanto tempo lá?

Passei um pouquinho mais de 24 horas. A gente não foi liberado de manhã porque estavam esperando o resultado do exame dela sair.

Na nota de esclarecimento, a direção da Santa Casa afirma que sempre acolhe todo mundo e explica que não foi possível levar você para dentro da maternidade porque o trabalho de parto já estava muito avançado. Você avalia que não deu mesmo tempo?

Se eles tivessem feito a ficha na hora que eu cheguei, daria tempo, sim, porque eu cheguei e esperamos uns 20 minutos. Daria tempo de eu ter entrado.

Houve um intervalo de 20 minutos desde a sua chegada até o momento do parto?

Isso, então daria tempo de eu ter entrado.

Você se sentiu maltratada?

Lá dentro mesmo me senti como se eu fosse ninguém, porque eu fiquei lá isolada, como se não tivesse acontecido nada. Eu [estava] sentindo muita dor. Não vieram perguntar se eu estava precisando de alguma coisa, um remédio, se eu estava sentindo alguma coisa. Não, eu só fiquei lá num canto. Teve uma hora que eu chamei a enfermeira, porque não estava aguentando e pedi para ir no banheiro. Na hora que levantei, desceu muito sangue. Aí ela foi olhar. Como eles não me deram atenção, quando ela pegou na minha barriga, minha barriga estava cheia de coágulos de sangue. Ela teve que ficar mexendo para os coágulos descer. Se eles tivessem prestado atenção antes, não tinha dado o coágulo.